terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Música na Era da Internet

Por Maíra Streit
  
O avanço da rede mundial de computadores tem reinventado a maneira de criar e consumir produtos culturais. Nesse contexto, a música se destaca como um dos exemplos mais evidentes das mudanças ocorridas por influência da popularização da internet. 
     
Para o jornalista e autor do livro “O futuro da música depois da morte do CD”, Irineu Franco Perpétuo, muitos artistas têm se beneficiado da rede para promover a divulgação de seus trabalhos. Segundo ele, os equipamentos de som também estão mais acessíveis, o que facilita as bandas gravarem seus álbuns de forma independente, em estúdios caseiros.   

Na opinião do jornalista, essa nova realidade estaria revolucionando o mercado fonográfico. “Em festivais, já vi produções simples ganharem de gente que gravou com os melhores profissionais da Inglaterra. Hoje temos a oportunidade de furar um bloqueio que antes era impossível e isso está estimulando muito as criações”, destaca.             
  
Irineu afirma que um equívoco comum quando se discute o assunto é achar que aqueles que fazem download gratuito não costumam gastar com música, deixando de contribuir financeiramente com os artistas. Ele argumenta que, de forma geral, os downloads são feitos para fins de pesquisa e à medida que a pessoa conhece um número maior de bandas, acaba consumindo mais. “A revista BBC Music fez um estudo e mostrou que esses internautas gastam 75% a mais com música porque acabam tendo contato com muitas novidades”, ressalta.     
          
Outro defensor absoluto do compartilhamento de informações na internet é o empreendedor social Reinaldo Pamponet. Depois de atuar por 12 anos como executivo de empresas multinacionais, ele se rendeu ao fascínio da era digital para propor soluções diferentes de difusão do conhecimento. Para isso, fundou a Eletrocooperativa, uma plataforma livre e sem fins lucrativos que tem o objetivo de estimular a realização de conteúdos audiovisuais.  
                        
O processo é feito por meio das “Chamadas Criativas”, que são perguntas divulgadas no site, que devem ser respondidas com produções artísticas, como ilustrações, vídeos, fotografias e, é claro, músicas. As manifestações mais originais são remuneradas, desde que o autor concorde em disponibilizar sua obra para que todos os usuários tenham acesso. Reinaldo acredita que estamos vivendo um momento bastante inspirador, do ponto de vista artístico, e isso se deve à democratização das tecnologias. “Uma sociedade conectada é uma sociedade criadora. E uma sociedade criadora é uma sociedade evoluída”, afirma.  

O professor de música e produtor Hamilton Pinheiro utiliza vários meios da rede para contatos profissionais, como website e página no MySpace.  Ele afirma que a internet trouxe benefícios para os artistas, como a velocidade na divulgação de informações. Contudo, Hamilton alerta que a política de direitos autorais precisa ser rediscutida. 
  
Já o tecladista da banda SKANK, Henrique Portugal, é declaradamente contra os downloads gratuitos. Para ele, o artista não pode abrir mão de seus direitos. “Imagine você ser um engenheiro e não poder ser remunerado pelo seu trabalho. É a mesma coisa”, observa.  A questão ainda gera polêmica e encontra diversas visões entre os profissionais da música. Quanto à atual crise das gravadoras, Henrique reconhece que elas estão perdendo espaço porque os artistas preferem não ter alguém que se coloque entre eles e o público.  

Apesar de o SKANK recorrer à gravadora para organizar a produção dos discos, Henrique afirma que tem uma relação muito próxima dos fãs. “A banda já ganhou prêmios pela interação com as novas tecnologias. As redes sociais ajudam os fãs a escolherem as músicas do nosso álbum ao vivo ou o ‘bis’ que eles querem ouvir no próximo show”, conta.    

O tecladista é apresentador do Programa Frente, da rádio UOL, e é conhecido no meio independente por impulsionar a carreira de jovens músicos. Ele afirma que na internet há muito lixo cultural, pois a facilidade de acesso faz com que todo mundo se considere artista, mesmo sem o talento necessário. Mas ele afirma que, em meio a tantas produções, muitas bandas têm se destacado. “Há alguns anos, os grupos precisavam desembolsar um bom dinheiro para mandar as fitas K7 ou os CD’s para os críticos pelo correio, sem saber se eles iriam escutar. Hoje é só colocar em anexo, por e-mail mesmo. É uma outra realidade”, conclui.    

Publicado pela Agência de Notícias do Iesb (Aniesb), em junho de 2010.

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